Sobre o trabalho em equipe na Área da Saúde Mental

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR

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Introdução

 

Toda agência da área da Saúde Mental, para ser eficaz, precisa considerar as dimensões da existência. Daí a importância da equipe multidisciplinar. Se há o propósito de atuar para a recuperação integral da saúde, como algo comum a todos os profissionais, é imprescindível ter em conta a especificidade das diversas categorias profissionais.

Se a equipe compõe-se de um grupo de pessoas atuando da mesma forma, o resultado será ineficaz. Em um país com população carente, essa ocorrência corresponde a um desperdício.

Os objetivos se delineiam em níveis distintos de atenção à saúde. Parece inegável que devam existir esses níveis, para evitar-se a ineficácia do atendimento. No entanto, considerando a insuficiência do atendimento atual, pela mesma razão, entende-se que uma equipe “mínima” se justifique, no presente.

A equipe compõe-se, necessariamente, da área médica, da enfermagem, da psicologia, da terapia ocupacional, da assistência social e, eventualmente, de outros profissionais, inclusive auxiliares técnicos, voltados à segurança e ao estímulo de atividades artísticas e esportivas.

Os propósitos terapêuticos focalizam a recuperação da diversidade de relacionamentos, propiciando, ao mesmo tempo, orientação, conhecimento, atenção ao núcleo familiar e às dificuldades que os pacientes apresentam, de acordo com sua existência concreta. Tais exigências são o maior obstáculo à eficácia da atuação nas áreas da Saúde Mental.

Não se trata de alcançar ideais além das limitações concretas, no âmbito comunitário e sociocultural. É, assim, necessário estabelecer metas realistas e aprimorar cada vez mais o sistema de saúde.

 

Domínio técnico

 

TRABALHO EM EQUIPE

 

A capacitação profissional inclui formação compatível com a complexidade das tarefas. O treinamento prévio é indispensável e simultâneo ao aprendizado teórico.

 

Conhecimento

 

O ensino e a formação profissional, na área da Saúde, demandam conhecimentos extensos e aprendizado sob supervisão, através de estágios programados nos diversos níveis de atenção.

Um exemplo que ilustra a complexidade das matérias durante a graduação é o conhecimento das técnicas de entrevista individual e grupal.

Há diferentes teorias que abrangem a dinâmica da entrevista e dos grupos que se relacionam, tanto além das dimensões institucionais da Saúde Mental quanto em seu interior.

O próprio trabalho em equipe foi objeto de estudos, já que também nesse caso acontecem manifestações dinâmicas individuais e grupais peculiares.

Tais ocorrências podem interferir como obstáculos à interação não somente com as pessoas em tratamento e aos contatos com as famílias, como no âmbito do relacionamento profissional. E ainda o conhecimento bem fundamentado da psicologia do desenvolvimento individual (ontogenético) e da psicopatologia, necessário a todas as categorias profissionais.

 

Comunicação

 

Este tópico refere-se à necessidade de comunicação entre os profissionais. É indispensável que a equipe esteja informada sobre as condições pessoais, a história e as dificuldades diagnósticas, assim como sobre os cuidados especiais, as intercorrências e os problemas que envolvam outros participantes, como o núcleo familiar.

Essa prática metódica evitará incidentes que, em certas situações, acarretam riscos à melhor recuperação das pessoas. Ao mesmo tempo, os registros em prontuário exigem clareza e precisão, não obstante possam ser concisos.

 

Aliança

 

Esse termo se refere, aqui, ao relacionamento interprofissional. Seria muito difícil realizar as tarefas se, no âmbito da equipe, as categorias profissionais digladiassem entre si. Sabe-se que essa ocorrência impediu, em muitas áreas da saúde, que o trabalho pudesse ser integrado.

É necessário que a coordenação dos programas esteja atenta a essa qualidade de interação hostil e busque evitar os confrontos improdutivos e a tendenciosidade. Se for preciso, deve-se mesmo realizar supervisão da equipe. Atualmente, os profissionais da área de saúde mental são levados, quase imperceptivelmente, a posições políticas e ideológicas extremistas.

Há, nessa questão, um viés que consiste em negar a realidade óbvia, sobre a existência concreta de problemas prementes da população atendida, que não podem ser resolvidos a partir das áreas da saúde.

 

Atuação conjunta

 

Atuação conjunta quer dizer um propósito comum, a partir de dimensões distintas de intervenção. O propósito comum difere de acordo com o nível de atenção.

No pronto-socorro ou no pronto atendimento, esse objetivo é reduzir drasticamente os riscos de um comprometimento mais grave, além de conduzir cada pessoa atendida à referência indicada, de acordo com o problema que apresenta. Eventualmente, a avaliação conclui sobre a possibilidade de atendimento ambulatorial ou seguimento em um centro de atenção psicossocial.

Em situações menos frequentes, será indicada a internação breve em clínica psiquiátrica, para obter condições de seguimento em regime aberto. Ocorre também o encaminhamento para outras instituições, como comunidades e lares terapêuticos, nas quais a permanência poderá ser mais prolongada.

Um passo importante é a avaliação da possibilidade de retorno à residência de origem ou ao núcleo familiar, sempre que isso for possível.

Finalmente, em casos internados por mandado judicial, tanto a permanência quanto o encaminhamento dependerão de medidas jurídicas.

 

Composição coerente das estratégias terapêuticas

 

As ações devem ser articuladas, de modo a buscar integração em todos os passos do atendimento. Daí a importância de um programa que contenha todas as diretrizes de avaliação, diagnóstico e conduta, até o planejamento da alta ou do encaminhamento; um protocolo que obedeça às normas de saúde e, ao mesmo tempo, torne eficaz a atuação da equipe.

De acordo com a complexidade das ações terapêuticas, diferem os critérios, com menor ou maior ênfase às características de cada pessoa atendida.

Assim, serão os critérios de cada instituição que deverão reger os propósitos da atuação. A estratégia terapêutica será variável, segundo se trate da recepção, do exame inicial, da atribuição de cada categoria profissional no acompanhamento da evolução, nas solicitações de exames, caso se verifiquem outras doenças ou patologias, na programação das visitas familiares ou relatórios formais (no caso de encaminhamento e dos relatórios formais a outras instituições eventualmente envolvidas).

Reuniões técnicas e clínicas periódicas são realizadas, com o intuito de promover a integração da equipe e buscar a resolução de situações que possam ser relevantes ao propósito do tratamento. Ressalte-se ainda a importância dos registros em prontuário organizado e eletrônico.

Sabe-se que o Sistema de Saúde é insuficiente no atendimento da população carente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A política nacional de saúde tem sido contraditória. A mescla de áreas altamente especializadas, em geral particulares ou providas por convênios dispendiosos, contrasta com o custo para a população carente, que, em grande parte, vê-se obrigada a recorrer ao serviço público e é submetida a longas filas de espera.

 

Referências e contrarreferências

 

HOSPITAL ITUPEVA

 

As referências e contrarreferências são precárias, relativamente à demanda populacional. Pessoas com transtornos mentais também apresentam outras doenças que exigem seguimento e cuidados. Isso nem sempre é viável através dos setores regionais. De fato, com algumas exceções, também outros países enfrentam dificuldades, até mesmo piores.

 

Conclusões

 

Foram assinalados diversos pontos que dificultam o atendimento na área de Saúde Mental. Há muito que fazer para tornar eficiente o atendimento às pessoas com transtornos mentais, em especial considerando que envolvem questões socioculturais e a própria qualidade dos serviços. O aprimoramento é possível, mas depende de medidas políticas e da multiplicação de instituições capazes de propiciar ensino e formação consistentes.

 

*Dr Ruy B Mendes Filho, médico psiquiatra, supervisor clínico do Hospital Psiquiátrico Itupeva.

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