Na introdução de seu livro célebre- verdadeira pedra fundamental da Sociologia empírica- Émile Durkheim discorre sobre o suicídio.
A partir de uma definição quase tautológica, um truísmo mesmo, conclui que o suicídio é toda morte que resulta mediata ou imediatamente de um ato positivo ou negativo realizado pela própria vítima.
Mas logo expõe as dificuldades nem sempre entrevistas nessa terrível questão. Se concretamente a morte de alguém psicótico, que crê saber voar, é suicídio, entretanto difere da morte que resulta de um ato consciente e deliberado.
Ressalta o eminente autor que a intenção subjetiva de um suicida é sempre insondável. Além disso, a morte por heroísmo não deixa de ser suicídio, ainda que possa ser antecedida por um ímpeto corajoso e determinado. O martírio é outro exemplo marcante.
Motivos relativamente comuns são o suicídio em razão de falência nos negócios, em crises econômicas, ou após rupturas e separações amorosas. Durkheim conclui definindo o suicídio em sentido estrito: trata-se da ocorrência em que o suicida sabe que o ato praticado será fatal.
A tentativa de suicídio inclui todos os casos nos quais é possível a interrupção antes da morte. Nem por isso, a tentativa é menos relevante do que o ato consumado. Sem a intenção de estender demasiadamente o tema, resta acrescentar que doenças mentais, como a adição a drogas (na qual inclui-se o alcoolismo crônico) assim como certas condutas arriscadas (mesmo que não sejam provocadas por distúrbios mentais) inclusive na vida sexual, ou em competições que expõem a acidentes, ou ainda na delinquência armada (e nas forças policiais), podem configurar “suicídio lento”.
Enfim, retomando Durkheim, a anomia- fragmentação ou ausência de valores que norteiam a existência humana- representa talvez um dos principais motivos de suicídio.
Seria possível dizer: a anomia encontra-se presente no mundo atual e é um dos piores males contemporâneos.
Dr Ruy B Mendes Filho – médico psiquiatra, mestre em psicologia, supervisor clínico do HPI