RESUMO
Trata-se de um trabalho bibliográfico com objetivo apresentar o benefício das artes para adolescentes em vulnerabilidade social e que possuem transtornos psicológicos, déficit cognitivo em graus variados ou ainda, que fazem uso abusivo de substâncias.
Essas características são pontos que constituem o nicho de vulnerabilidade em que eles se encontram. De acordo com (Morais, Raffaelli e Koller 2012) a vulnerabilidade social também pode ser constituída por adversidades que advém do cotidiano, da rotina familiar.
Ainda neste ponto de vista, (Martha A. Traverso-Yépez; Verônica de Souza Pinheiro 2002) citam que a precariedade de infraestrutura e seu mal funcionamento colaboram para que a taxa de adolescentes em vulnerabilidade social, uso de drogas, transtornos psicológicos entre outros, aumente. Por isso, as intervenções de cunho artístico podem ser alternativas eficazes ao plano interventivo geral para esta parcela
populacional, pois tem a capacidade de inferir sobre o cotidiano que, por vezes, se encontra caótico e prejudicial aos jovens. Como cita (LUSIADA 2011), o foco em um objetivo e o desenvolvimento de metas para que este seja alcançado, manutenção da motivação e desenvolvimento de opções para o método são essenciais para a autorregulação.
Neste trabalho, podemos entender que através da arte é possível que o jovem exerça esta capacidade de autorregulação, traçando uma meta para o que deseja produzir e desenvolvendo foco e motivação para concluí-lo, o que é essencial eu seu processo terapêutico por meio desta ferramenta apresentada.
Palavras – chave: artes, jovens, transtornos psicológicos, uso de drogas.
INTRODUÇÃO
A arte é vista por muitos como o ato simplista de adicionar cor à uma tela ou papel, mas neste conteúdo pretendo desmistificar esta práxis como algo simplista e trazer o entendimento do nível terapêutico que ela proporciona, motivo pelo qual acreditamos ser uma das partes cruciais no tratamento psiquiátrico e na promoção do bem estar daqueles que estão em uma instituição.
VISÃO DA PSICOLOGIA SOBRE A ARTE NO PROCESSO TERAPÊUTICO
A visão da psicologia com base no viés psicanalítico apresenta as artes como janela projetiva dos conteúdos anímicos do paciente. Tais conteúdos, por vezes, não são traduzidos com êxito pelas palavras, mas através da arte temos acesso aos conteúdos ocultos do paciente.
Além disso, a arte é um caminho para a sublimação das pulsões do indivíduo, transformando-as em algo socialmente aceito e fortalecendo os relacionamentos interpessoais: “Por isso, de acordo com a teoria freudiana, a arte é capaz de fazer o ser humano renunciar a sua satisfação pulsional em favor da civiliação, fortalecendo suas relações sociais.” (Tor, 2017)
Sendo assim, o indivíduo tem um canal de expressão rica de seus conteúdos e o profissional tem uma ferramenta além de sua técnica para lidar com as demandas do paciente. A promoção de um espaço livre de cobranças ou pressões sociais é mais uma ferramenta interessante para promover o desenvolvimento sadio de relações interpessoais. Dentro deste espaço, cria-se um vínculo com outros pacientes, com realidades diferentes e torna possível a troca de experiências, que também fortalece o processo terapêutico.
“…que entende a arte como linguagem universal capaz de produzir subjetividades e catalisar afetos, facilitando a troca de experiências em grupo. O valor da arte estaria, assim, ligado ao seu potencial de reabilitação, na medida em que oferece a possibilidade do sujeito explorar suas potencialidades na busca da conquista de espaços sociais.” (Tor, 2017)
Além disso sabemos que, por vezes, um ambiente clínico, um consultório, estar frente à frente com um profissional sem mais ninguém ao seu lado, ser investigado sobre suas questões por vezes pode ser intimidador para alguns pacientes.
Por sensações assim emergirem durante um atendimento, algumas peças importantes do quebra cabeça podem ser esquecidas. Isso faz falta dentro do esquema terapêutico. Na promoção artística, o paciente também desenvolve autoconhecimento, se sente mais confortável e se lembra das peças que faltaram ao se expressar artisticamente. Tudo isso é levado novamente à terapia, desfazendo os temores do paciente.
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
As oficinas artísticas são uma grande ferramenta para trabalhar a vulnerabilidade dos jovens, em específico os jovens que estão em vulnerabilidade por possuírem algum transtorno de personalidade, atraso cognitivo, situações familiares frágeis, falta de autocontrole e abuso de substâncias.
A psicanálise por Freud aponta que a arte pode ser uma ferramenta de sublimação para determinadas pulsões, o que facilita o convívio social. Esse desvio pode trazer prazer ao sujeito e fortalecer as relações interpessoais através deste processo, além de expor angústias que por vezes estão além da compreensão (FREUD S. 1980).
Dentre os artigos pesquisados encontramos ricas afirmações e resultados comprovados sobre os benefícios deste artificio para tratar da população e da vulnerabilidade em questão.
“A arte contida no piche pode ser entendida como uma forma de externalizar conflitos interiores e solicitar atenção para suas criações enquanto parte do processo de identificação que, muitas vezes, pode ser vista nos comportamentos transgressores. O adolescente está se incluindo em grupos para a construção de sua identidade, logo, o trabalho em grupo e encontros realizados para este fim podem ajudar no processo da busca de si mesmo.” (TOR, 2017).
Dados como estes reafirmam a importância da arte terapia. A arte é uma linguagem universal. Dentro de projetos terapêuticos e consultório, o alvo do psicoterapeuta, independentemente de sua abordagem, é auxiliar seu paciente em seu desenvolvimento e evoluir em seu processo terapêutico, promover uma escuta ativa e compreender o que o mesmo tenta lhe dizer.
Por vezes, este processo é dificultoso quando se trata das palavras. A linguagem universal da arte mostra-se mais uma vez terapêutica, pois traduz aquilo que em palavras dentro de um consultório, não está fluindo plenamente.
Dentro deste nicho de vulnerabilidade, principalmente quando se fala em relações familiares conturbada, percebemos que o jovem não tem espaço para diálogo ou transparência dentro do ambiente familiar. A promoção deste espaço para expressão e compreensão se faz extremamente necessário.
Quando o jovem é ouvido e compreendido, ele é auxiliado em seu processo, passa a aprender a se escutar assim como quem está de fora de seu estado psicológico o faz. Ainda neste ponto, pode-se dizer que sua arte, como externalização, funciona como seu espelho, tornando o processo terapêutico mais didático e facilitado e sua percepção de si, de seus conflitos e sua própria escuta sobre quem é e o que está dizendo.
O” valor da arte estaria, assim, ligado ao seu potencial de reabilitação, na medida em que oferece a possibilidade de o sujeito explorar suas potencialidades na busca da conquista de espaços sociais” (TOR, 2017).
Podemos observar que todos os dados apontam para o resultado positivo deste recurso dentro deste nicho de vulnerabilidade.
Além disso, (BOLSONI-SILVA 2009) cita que há uma relação inversamente proporcional entre problemas psicológicos e interações sociais. Entendemos que esta intervenção cumpre o papel em auxiliar no combate destas disfunções nas interações sociais, reforçando a conquista de espaços sociais colocada como relevante nesta discussão.
Logo, vemos que a apresentação de uma intervenção artística como parcela de um plano maior tem benefícios certeiros. Possibilita aos jovens desenvolvimento cognitivo, interpessoal, desenvolvimento de habilidades que podem auxilia-los quanto a entrada no mercado de trabalho, espaço seguro para transparência quanto as suas demandas pessoais e psicológicas, enfrentamento de desafios pessoais através do cultivo à persistência, trabalho com autoestima, realização pessoal entre outros. É uma poderosa aliada à queixa desta população.
Giovana Bomsenhor | 2024
REFERÊNCIAS
https://periodicos.saude.sp.gov.br/bis/article/view/34813/33324
http://icts.unb.br/jspui/bitstream/ 10482/38143/1/2019_RenataMagalh%c3%a3esNaves.pdf
https://periodicos.pucminas.br/index.php/psicologiaemrevista/article/view/ 9195/14050
http://www.scielo.org.co/scielo.php? pid=S1657-92672012000300008&script=sci_arttext
http://www.scielo.org.co/scielo.php? pid=S1794-47242012000100010&script=sci_arttext
