O trabalho como prioridade?

O trabalho como prioridade

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Já entendemos no texto passado que nós somos a soma de nós mesmos com as circunstâncias que nos cercam. E que estas eram nossa saúde, pessoas amadas, nossa reputação, nossa carreira e finalmente nosso trabalho.

Elas estão elencadas por ordem de importância. Percebam que o trabalho está, não à toa, em último, tendo inclusive que ser separado da reputação e da carreira. Considerar o trabalho como a principal das nossas circunstâncias é uma total inversão de prioridades.

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Mas tem gente que faz pior. Não apenas invertem as prioridades colocando o trabalho em primeiro lugar, como chegam a colocá-lo como ÚNICA circunstância. Representados pelo seu CPF quando trabalham para uma empresa – o CNPJ – temos que estes são os “CPF de única circunstância”, os “CUQ”.

Por alguma razão, que ainda carece de explicação Deus criou uma porção imensa de CUQ´s. Às aranhas ainda compete fazer sua função na cadeia alimentar e até na polinização. Mas para que serve um CUQ além de nos atazanar no trabalho? E mais: como reconhecer um? Será que você não é um deles?

Pois bem. Um CUQ se pauta por na maioria das vezes se encontrar na coluna dos problemas. Esclarecendo, num ambiente de trabalho, temos duas colunas, a dos problemas e a das soluções.

É uma questão de escolha o lugar onde você fica. Algo como estar na turma que fica avisando que vai dar problema, e no final diz ruidosamente que avisou, ou compor a equipe que vai trabalhar para não dar problema e no final ficar em paz ainda que silenciosamente com o trabalho realizado.

O CPF de única circunstância não se sente como fazendo parte de um grupo. Ele não se sente minimamente responsabilizado como tendo parte da culpa caso as coisas dêem errado e ao passo que se acham mais responsáveis pelo sucesso do time mas ainda assim se sentem injustiçados por não receberem o mérito que deveriam.

Na verdade eles nunca tem culpa. O mundo é que tem. São credores de um mundo que tudo lhes deve, mas que na verdade já estava lá quando ele chegou. E que assumem a crença numa entidade, chamada “Ezlá”. Tudo é reportado a Ezlá. Por exemplo, “vai ter auditoria, quero ver Ezlá agora”. Ou “será que Ezlá vão se mexer no dissidio?”. O a clássica “Ezlá nunca nos reconhecem”.

A existência da entidade “Ezlá” já denota que a Empresa é um ente abstrato, o que até se justifica quando, no caso de firmas muito grandes, as decisões parecem mesmo vir do céu. Mas entendam que mesmo as instâncias decisórias tem seus CUQ´s, cujas ações deletérias se estendem a muita gente.

Pode ser que, vendo a questão com mais empatia – porque empatia é algo que se deve até a um CPF de única circunstância – pode ser que eles tenham perdido de alguma maneira as suas outras circunstâncias: a saúde é algo para a qual nem ligam, a família não os suporta e vice-versa, talvez até se divirtam com uma reputação complicada e não conseguem vislumbrar um futuro para si mesmos, incluindo a carreira. Só trabalham para pagar os boletos.

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Se temos algo a aprender com eles é o fato de que o trabalho não é um lugar de ser feliz. O trabalho não é uma micareta. Trabalho é lugar de trabalhar. Tendo a paz necessária para que possamos desempenhar nossas funções e entregar o que esperam de nós.

E esta é a palavra chave: “Paz”. Fica aqui um recado aos CUQ´s: tratem de suas cucas e nos deixem em paz!

Dr Michel Matias Vieira – Médico Psiquiatra, Diretor Clínico do Hospital Psiquiátrico Itupeva

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