Por Ruy B. Mendes Filho
As perturbações do sono são usualmente incluídas em sete categorias: 1. Insônia; 2. Transtornos respiratórios relacionados com o sono; 3. Hipersônias não relacionadas com transtorno respiratório; 4. Parassonias; 5. Transtornos do movimento relacionados com o sono; 6. Outros transtornos do sono; 7. Sintoma isolados, variantes aparentemente normais e questões não resolvidas.
Os distúrbios do sono são, em geral, secundários. A insônia é uma queixa subjetiva relacionada à duração e à qualidade do sono. A insatisfação aparece, em certos casos, associada à expectativa de dormir sem incômodos, sendo mais comum no sexo feminino e em idosos. Acontece também que pessoas sedentárias sentem a falta de um sono profundo, como o que sobrevinha após atividade física exaustiva.
A insônia primária é uma perturbação relativamente rara. Mais relevante para a clínica é insônia que ocorre devido a outros transtornos mentais: ansiedade e perturbações afetivas, além de muitas outras condições. Seria plausível afirmar que o sono se encontra perturbado em grande parte dos transtornos mentais.
A insônia pode ser ‘inicial’ e revelar dificuldade em adormecer. Não é necessariamente patológica, pois depende de atividade diária que produza inquietude ou excitação. A verificação do uso de substâncias medicamentosas ou psicoativas é um dado relevante.
A qualidade da insônia envolve os distúrbios do ciclo do sono que, como se sabe, compõe-se de cinco estágios, concomitantes a hipotonia crescente. A polissonografia é o exame que evidencia as perturbações desses estágios. Outro exame menos dispendioso é um relógio de pulso (actígrafo) que registra a movimentação dos braços, relevante para avaliar a qualidade do sono. Avalia-se, com esses procedimentos, a “eficiência do sono” (porcentagem de tempo do sono dividido pelo tempo que se passa na tentativa de adormecer.
A insônia terminal ou “despertar precoce” é um sintoma relevante e extremamente aflitivo, próprio das depressões fásicas e dos transtornos depressivos bipolares. Na fase maníaca, o sono é frequentemente reduzido sem haver queixa e isso arrasta à exaustão, com riscos evidentes.
As pessoas dormem por períodos variáveis, habitualmente por 7-8 horas, porém a duração pode ser menor ou maior e sempre se reduz a partir da sexta década de vida. O sono inquieto acompanha-se de manifestações hipnagógicas ou hipnopômpicas (adormecimento ou despertar), além de diversos fenômenos pseudoalucinatórios. Descreve-se também o despertar mais lento, que foi reconhecido como “embriaguez” do sono.
Sabe-se que um transtorno degenerativo raro acarreta a total ausência de sono (insônia familiar fatal). Dada a exigência de brevidade do texto, não se estenderá a questão da hipersônia e das parassonias, condições que se manifestam em diversas patologias e até como ocorrência habitual, principalmente na infância.
É relevante reiterar que a insônia pode ser consequência do ritmo de vida, em função do desgaste emocional provocado por solicitações do dia a dia. Tem sido uma queixa frequente e é preciso ter em conta que o sono é uma manifestação espontânea e instintiva.
Sono insuficiente ou irregular compromete a vida afetiva e perturba a cognição e a atividade diurna. Há relatos das perturbações que acontecem com a privação de sono, inclusive sobre a vulnerabilidade a doenças, como o resfriado comum, e isso envolve provavelmente o sistema imunológico. (Ruiz et al., 2012; cit. in: Barlow & Durand, 2015: 302)
Leve-se em consideração a teoria psicanalítica, que postulou a importância dos sonhos como elaboração espontânea de sobrecargas e conflitos emocionais.
A maioria das doenças mentais apresenta-se com irregularidade e prejuízo da qualidade do sono. O uso de hipnóticos não deve ser prolongado. Após 2-3 semanas de sua utilização, impõe-se manter apenas os medicamentos que atenuem ou tratem os transtornos específicos, como as síndromes do autismo, a esquizofrenia e outros transtornos psicóticos, a depressão, as doenças bipolares, as condições da dinâmica ‘borderline’ e os quadros que manifestam ansiedade.
Relata-se, mesmo, a relação entre a expressão ‘borderline’ da personalidade e genes associados ao ritmo circadianos e ao metabolismo, com consequências sobre a incidência e prevalência de sobrepeso. (Ibidem, 303)
A “dissonia” (dificuldade para dormir o suficiente) e as “parassonias” (como pesadelos, sonambulismo, soniloquia, “ranger de dentes”, sono agitado, entre outros) ainda exigem pesquisas concludentes, porém é patente a relevância do sono, tanto em duração quanto em qualidade.
No presente, especialistas preconizam a “higiene” do sono, que consiste em mudança dos hábitos noturnos e das atividades que precedem, em algumas horas, o momento de adormecer.
Em conclusão, a predisposição ou vulnerabilidade aos distúrbios do sono pode envolver questões biológicas (inclusive genéticas), peculiaridades do ambiente e dos hábitos de vida, conflitos emocionais com “estresse” e outros transtornos mentais.
Referência complementar:
Barlow, David H. & Durand, Mark R.- Psicopatologia: uma abordagem integrada. Trad. Noveritis do Brasil. 2. ed. São Paulo, Ed. Cengage Learning, 2015: 302-321.