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por Dr. Ricardo de Moura Biz, Médico Psiquiatra e Psicanalista, Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Colaborador do Centro de Estudos de Saúde Mental Itupeva.
As medicações psiquiátricas podem ser prescritas para uso contínuo (aquelas que se toma numa dose fixa diária) e/ou para uso episódico (durante alguns dias, quando o paciente sente um desconforto, uma crise de ansiedade ou insônia). As medicações de uso contínuo podem ser prescritas junto ou não com medicações de uso eventual.
Pesquisas usando neuroimagem têm mostrado que o que mais agride o corpo é o estresse, sobretudo aquele relacionado a crises de mania (exaltação do humor e agitações do bipolar) e surtos psicóticos. Quanto mais episódios maníacos ou psicóticos o paciente apresenta, maior é a escala de seu envelhecimento cerebral e declínio psíquico.
Desta forma, podemos inferir que a tensão, a insônia e os estados ansiosos também são fatores importantes de agressão ao organismo, ao cérebro e à mente.Vale ainda lembrar que estados ansiosos podem elevar a pressão arterial, aumentando o risco de infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs).
Então o dilema: medicar ou ficar submetido ao estresse? Os remédios psiquiátricos fazem mal à saúde?
A questão é mais abrangente e deveríamos considerar também outras formas terapêuticas além de medicações. A psicoterapia é um recurso terapêutico comprovado e duradouro. Podemos acrescentar, obviamente, a importância de lazer, exercícios físicos, qualidade no sono, dieta balanceada, evitar fumo, outras drogas, etc.
É comum a dúvida se o uso de medicações psiquiátricas pode viciar, causar dano ou sequela duradoura no organismo. A metabolização dos medicamentos psiquiátricos modernos não sobrecarrega o organismo. No geral, são seguros em termos farmacológicos. Porém, não se trata aqui de fazer uma defesa da medicalização indiscriminada, pois os excessos de prescrições de antidepressivos, estimulantes e calmantes são bem conhecidos e devem ser combatidos. É verdade também que muitas pessoas se apoiam estritamente em psicofármacos, sem modificar seus hábitos deletérios à saúde e fogem de psicoterapeutas, o que certamente gera uma expectativa irreal de resolução de problemas complexos por parte dessas substâncias.
No entanto, deixar de medicar estados ansiosos pode ser arriscado e causar danos mais importantes do que a própria exposição a remédios.
Vale comentar ainda que não é propriamente o “efeito químico” que muitas vezes vicia o paciente, mas o “efeito muleta” já que muitos pacientes ficam “seduzidos” e se acomodam com o uso do remédio, não buscando outras formas de tratamento nem modificando seus estilos de vida. Nestes casos, o que vicia: o medicamento ou um determinado estilo de vida?
AUTOR
Ricardo Biz
Psiquiatra Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), da FEPAL e da International Psychoanalytical Association (IPA) Livros publicados — O amor In verso — Sinto mas Ad versos — Psiquiatria, psicanálise e pensamento simbólico —Internações psiquiátricas (Org) — O que é a morte, papai?
E-mail: contato@psiquiatriajundiai.com.br