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por Dr. Ruy B. Mendes Filho, Médico Psiquiatra e Mestre em Psicologia, Professor de Psicopatologia, Supervisor Clínico do Hospital Psiquiátrico Itupeva e da Sociedade Rorschach de São Paulo.
Não é difícil apreender certa reserva quanto a determinados recursos e procedimentos terapêuticos.
À parte a questão corporativa- relevante- vale transmitir alguns critérios que se podem generalizar. A psicoterapia sistemática e metódico, a partir do paradigma psicanalítico, aplica-se a maior número de pessoas do que se supõe, no presente. Incluem-se nesse rol todas as modalidades de psicoterapia denominadas de ‘insight’ (respeitado o sentido original do termo: “introvisão”, capacidade de apreender, a partir da livre comunicação e da interpretação criteriosa, os conflitos emocionais e as perturbações mentais acessíveis à análise, retrospectiva, atual ou até mesmo prospectiva).
Em menor número (obviamente relativo, ponderal), há pessoas que não se beneficiam com a psicoterapia, nessa acepção rigorosa, inclusive em razão de dificuldades do sistema atual da saúde (em grande parte, atribuíveis aos convênios, mas também, e principalmente, pelo custo dos procedimentos). Daí a importância de se retomarem as investigações pioneiras de Sándor Ferenczi e Franz Alexander, entre outros que propuseram modificações técnicas e a focalização de problemas específicos, em psicoterapias mais diretivas.
Cabe ainda mencionar outras modalidades de terapia psicológica, como a cognitivo-comportamental, úteis, mas fundamentadas por critérios teóricos e práticos distintos. A terapia grupal encontra indicações e conta com profissionais qualificados.
De resto, convém assinalar que tais procedimentos, bem fundamentados, não colidem com a utilização de determinados psicofármacos, exceto daqueles que provocam distanciamento da realidade (concreta) e modificações prazerosas, como os benzodiazepínicos.
Recorde-se que até mesmo Freud não era avesso aos medicamentos. No caso da psicofarmacologia, o médico tem o compromisso de ‘expertise’ quanto aos benefícios e riscos do tratamento em curto ou longo prazo.
É quase desnecessário ressaltar que ainda se mantêm certos preconceitos quanto à indicação de psicofármacos e também de tratamentos físicos (biológicos).
Assim, é preciso que haja compreensão quanto ao amplo espectro de procedimentos terapêuticos e à necessidade de formação e treinamento sob supervisão.
Na realidade atual, até mesmo pessoas sem perturbações mais graves, no âmbito da prova e do juízo de realidade, poderão se beneficiar com a psicoterapia, com frequência sem a necessidade do uso de psicofármacos, como é possível constatar através da opinião de profissionais habilitados e com excelente formação.
Dessa maneira, é tempo de ultrapassar o viés de exclusividade de uma ou outra modalidade de tratamento.
Nada impede que até mesmo psicanalistas com formação rigorosa, efetivada através de suas respectivas escolas e institutos, possam trabalhar em conjunto com médicos e outros profissionais da área da saúde mental.
A palavra-chave é “integração” e a via corresponde ao “diálogo” ético, respeitoso e ciente da imensa responsabilidade perante o sofrimento psíquico.
(imagem: divulgação)