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por Dr. Ricardo de Moura Biz, Médico Psiquiatra e Psicanalista, Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Colaborador do Centro de Estudos de Saúde Mental Itupeva.
Talvez o disfarce mais adaptado aos tempos atuais, que abarca a ambição individual (pulsional) e a posiciona como propulsora do desenvolvimento social, seria a ideologia que se convencionou chamar “eu-empresa”.
Aqui o campo é vasto para o galope do individualismo. Lucro, sucesso, riqueza, marketing pessoal – do campo do empreendedorismo – são linkados despudoradamente ao campo da psicologização.
O ideal empreendedor consegue incorporar valores individualistas neoliberais como liberdade, autonomia, esperança de riqueza e fama; o sujeito sobressair-se-ia do caldo social, pelos próprios esforços: the self made man.
Ouvi de um motorista de aplicativo que vivia na Argentina, fugido da autocracia de Nicolás Maduro da Venezuela, que “o funcionário trabalha para obter um salário, enquanto o empreendedor trabalha para fazer crescer seu negócio”. Definição precisa e atrativa vinda justamente de uma vítima da uberização, que resulta de um complexo jogo de poder político-econômico, pendendo a balança para a precarização e flexibilização do trabalho.
O empreendedorismo se alimenta do sonho de crescimento e destaque. Não apaga, pois, a chama de uma singularidade, mas a põe em cenários ilusórios.
AUTOR
Ricardo Biz
Psiquiatra Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), da FEPAL e da International Psychoanalytical Association (IPA) Livros publicados — O amor In verso — Sinto mas Ad versos — Psiquiatria, psicanálise e pensamento simbólico —Internações psiquiátricas (Org) — O que é a morte, papai?
E-mail: contato@psiquiatriajundiai.com.br