O PAPEL DA MULHER NO MITO DE ORFEU

Orfeu-e-EuridicE

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Resumo

O autor faz considerações sobre o papel da mulher no mito de Orfeu, especialmente na passagem do resgate de Eurídice do Inferno e no ataque desferido pelas bacantes contra o herói. O orfismo era uma doutrina religiosa que remontava ao século 7 a.C., sendo marcada pelo dualismo corpo-mente. Já o mito de Orfeu também tem um dualismo evidente: homem-mulher. No entanto, não há um encontro fecundo entre os gêneros, pois Orfeu mal se une a Eurídice (que precocemente é separada de Orfeu pela morte) e também não se une às bacantes (que, na verdade, trucidam-no). Neste artigo, aprofundamos a visão sobre as tomadas de decisão das personagens femininas do mito, realizando conexões com a teoria psicanalítica.

Palavras-chave: Orfeu; feminino; mitologia; mulher; psicanálise

 

Abstract

The author considers the role of women in the myth of Orpheus, especially in the passage of Eurydice’s rescue from Hell and the attack launched by the Bacchantes against the hero. Orphism was a religious doctrine dating back to the 7th century b.C. and was marked by “body-mind” dualism. Orpheus’s myth also has a strong dualism man-woman. However, there is no fruitful encounter between the genders, as Orpheus barely joins Eurydice (who is separated from Orpheus early by death) and does not join the Bacchantes (who, in fact, slayed him). In this article, we deepen the vision of the decision-making of the female characters of the myth, making connections with the psychoanalytic theory.

Keywords: Orpheus; female; mythology; woman; psychoanalysis

ORFEU

 

1. O orfismo e o mito de Orfeu

Podemos dividir o estudo de Orfeu, didaticamente, entre o orfismo e as peripécias míticas do personagem Orfeu.

O orfismo era um movimento religioso já presente pelo menos em 7 a.C. e se estendeu aos primeiros séculos da era cristã, quando foi perdendo força até desaparecer. Continha fortes influências das devoções a Dioniso e de costumes orientais. Era a religião de uma minoria seleta que acreditava numa cosmogonia da moral humana, vida além-morte e no Inferno como lugar de castigo para fins de reparação. Percebe-se nessa doutrina bases do cristianismo arcaico e, provavelmente, do islamismo. Só para citar alguns elementos comuns nas duas maiores religiões atuais e que, anteriormente, eram praticados no orfismo, temos:

  1. O afã da catarse como forma de alcançar o processo soteriológico;
  2. Por meio de vegetarianismo, abluções, banhos, jejuns e purificações da consciência lidavam com a culpa;
  3. Praticavam cantos, hinos, litanias e ritos iniciáticos (Brandão, 1992). Temos a ritualística do orfismo porque chegaram aos nossos dias alguns textos, e os mais importantes entre eles são os Hinos Órficos e o Papiro de Deverni.2

A doutrina órfico-pitagórica, base da teoria platônica, talvez tenha sido a primeira a organizar o que hoje conhecemos por mundo espiritual e mundo terreno, num nítido dualismo corpo-alma.

Estudar o orfismo é se dar conta de aspectos esquecidos (ou recalcados) da espiritualidade das duas maiores religiões do mundo ocidental hoje.

Já com relação ao mito propriamente dito, percebemos que Orfeu não é retratado como um personagem forte, musculoso, corajoso e intrépido, como os conhecidos Hércules e Ares (seu avó), mas é dotado de sofisticação e talento, representado pelo domínio da poesia e da música. Não fazia trabalhos pesados e brutos: foi um dos argonautas que ajudaram Jasão na viagem para buscar o Velocino de Ouro. Durante a ida, ele não remava, mas acalmava os tripulantes e transmitia-lhes ritmo às remadas com sua arte. Durante a volta, Orfeu salvou os demais tripulantes por meio de seu canto, que silenciou as sereias, responsáveis pelos naufrágios de inúmeras embarcações.

Como todo mito, há inúmeras fontes informativas que nos chegaram ao conhecimento, algumas até contraditórias entre si. Vamos fazer um resumo, num parágrafo, sobre o mito de Orfeu baseado no texto Metamorfose de Ovídio (43 a.C.-18 d.C.), versos 1 a 85 do Livro x, onde é narrada a descida de Orfeu ao Inferno: tal descida ao Mundo dos Mortos foi para resgatar sua amada, Eurídice, que acabara de morrer vitimada pela picada de uma cobra em que ela havia pisado. Orfeu, com o poder impactante dos seus versos,3 comove Hades, que concede a Eurídice a volta para a vida. Mas o herói tinha que cumprir uma condição: não olhar para trás para constatar se, de fato, sua amada o seguia. Já próximo da saída do Inferno, Orfeu duvida e acaba olhando para trás, descumprindo a condição imposta. Eurídice, então, fica impedida de voltar à vida e morre pela segunda vez. Depois que Orfeu ascende do mundo de Hades, fica vagando desolado, cantando suas dores, sua grande perda amorosa. Orfeu passou a recusar todo encanto feminino, porque tristemente lhe sucedera tal perda, ou seja, porque jurara fidelidade a Eurídice.

O ciclo de catábase de Orfeu, ou seja, sua descida ao Mundo dos Mortos, também está presente nas trajetórias de muitos heróis míticos, como, por exemplo, Hércules, Odisseu, Teseu, Dioniso e Eneias; nessas viagens, eles adquirem conhecimentos esotéricos e saberes sobre os mistérios da existência.

Após a volta de Orfeu do mundo ctônico, ele ficou vagando por sete meses (segundo a versão de Virgílio, que se encontra no Livro iv das Geórgicas), encantando seu entorno ou, em outras versões, sem conseguir cantar, sem inspiração, não conseguindo superar seu luto. Orfeu era assediado por bacantes, mas resistia e não se entregava a outro amor. A recusa persistente de Orfeu foi despertando raiva num grupo de bacantes; essa raiva foi crescendo, até que tais ninfas, ensandecidas e extasiadas em transes dionisíacos, atacam-no furiosamente com dentadas e destroçam seu corpo. Quais as causas do ódio homicida dessas mulheres? Os mitólogos examinam frequentemente quatro possibilidades:4

  1. A fidelidade de Orfeu à memória de Eurídice teria sido interpretada como ofensa pelas mênades, que o assediavam. A recusa sexual e amorosa dessas mulheres impactaria na autoestima delas, e quanto mais eram desprezadas, mais a mola da humilhação era comprimida, mais energia se acumulava na fúria iminente.5
  2. Orfeu passou a menosprezar o sexo feminino, preferindo a companhia de mancebos, inventando a pederastia. Ou ainda teria instituído uns mistérios, baseados na sua experiência do outro mundo, nos quais as mulheres eram interditas (Grimal 1912/2000). Os mistérios eram relativos à descida de Orfeu ao Inferno, como se ele soubesse os segredos da volta, como se ele possuísse livre trânsito entre o sagrado e o divino. Ainda nos dias de hoje, costumamos endeusar os artistas, como se detivessem conhecimento de valiosos mistérios…
  3. Afrodite, não podendo se vingar de Calíope (mãe de Orfeu, que convenceu Zeus a deixar Adonis metade do tempo com Perséfone, metade com Afrodite), instigou as mulheres da Trácia a amar Orfeu; como nenhuma quis ceder sua parte, despedaçaram seu corpo a dentadas.
  4. Dioniso, enciumado pelo culto que Orfeu dedicava a Apolo, instigou as bacantes a matá-lo.

A despeito das diferentes fontes míticas, a voracidade feminina tem destaque e manifesta-se numa explosão de rancor. Sedentas por sangue, não apenas matam, mas esquartejam, restando só a cabeça e a cítara como lúgubres troféus. Vamos agora nos deter em alguns pontos desse denso mito e avaliar o papel ocupado pela mulher.

 

2. Não olhes para trás!

Para os povos antigos, a posição espacial com relação ao corpo era muito sugestiva. No geral, olhar para a frente está relacionado ao futuro ou a profecia; olhar para trás é voltar ao passado; olhar para a direita é sorte; olhar para a esquerda, azar. O que seria simbolicamente esse olhar para trás? Um retroceder, um fraquejar, ceder aos impulsos, pecar, satisfazer-se, dessublimar… Vamos tentar expandir.

Há alguns anos em nosso país, assistimos a um caso que ganhou a mídia: o empresário dono da marca Yoki foi morto e esquartejado pela esposa,1 que, pelo que foi divulgado, havia sido resgatada da prostituição (do Inferno?). A motivação teria sido a pouca correspondência amorosa, ou um caso extraconjugal com outra prostituta (ele olhou para trás, voltou às origens).

De fato, o sentido de olhar para trás está relacionado a malfeito ou pecado no passado. Na mais conhecida passagem bíblica relacionada à proibição de olhar para trás, emergem questões da devassidão sexual de Sodoma e Gomorra, bem como da destruição dessas cidades após o descumprimento do interdito:

Raiando a aurora, os Anjos insistiram com Ló, dizendo: “Levanta-te! Toma tua mulher e tuas duas filhas que aqui se encontram, para que não pereças no castigo da cidade”. … Enquanto o levavam para fora, ele [um dos anjos] disse: “Salva-te pela tua vida! Não olhes para trás de ti nem te detenhas em nenhum lugar da Planície; foge para a montanha para não pereceres!” … Ora, a mulher de Ló olhou para trás e converteu-se numa estátua de sal. (Bíblia, 1998, Gênesis 19:15, 17 e 26)

O retorno ao submundo ou a desobediência são temas míticos recorrentes, sempre permeados de aconselhamentos de entes divinos contra uma poderosa força demoníaca (o sexual). A mulher de Ló não resistiu ao desejo de olhar para trás. Eva também foi transgressora no Gênesis. De fato, o mundo bíblico antigo era deveras patriarcal, e o papel de quem cede ao desejo recaía, frequentemente, na mulher, usada como bode expiatório.

Em nosso mito estudado, foi Orfeu quem titubeou e olhou para trás. É mais um aspecto que mostra o lado feminino de Orfeu? Teve medo? Sabemos que medo e desejo andam de mãos dadas…

O sagrado é protegido por proibições e ritos. As solenidades, as purgações, as limpezas são comumente utilizadas no manejo de situações sacras. O medo de uma punição é frequentemente estimulado nas religiões para conservar o interdito.

No interjogo entre o sagrado e o profano, o homem faz suas escolhas amorosas, impulsionado pelos seus desejos (sexuais adultos) e pelas carências (desamparo infantil). E, para fugir da imagem de uma relação incestuosa com a mãe, muitos homens têm preferência sexual por mulheres de classe social inferior ou mesmo prostitutas, como assinalou Freud (1912/1980c): “Quando amam, não desejam, e quando desejam, não podem amar”. No entanto, a satisfação sexual sem limites sempre foi uma ameaça, e as religiões dispunham de fusíveis que desarmavam quando o(a) te(n)são aumentava, seja por proibições, seja por punições severas aos desobedientes.

 

3. O papel da mulher na cena do Inferno

Na descida de Orfeu ao Inferno, a mulher é representada como um objeto valioso que o herói persegue e almeja. Em algumas variantes do mito, Eurídice é inalcançável porque Orfeu nem teria chegado a concretizar as núpcias com ela. A ninfa é o norte de sua vida. Nesse ínterim, encontra-se à frente do herói.

Quando este desce ao Inferno, a reavivada Eurídice segue atrás dele, que deve confiar em sua presença sem a ver. Orfeu teria sido punido por buscar desvairadamente um objeto idealizado, em detrimento de uma incorporação do feminino em si mesmo?

Algumas versões do mito relatam que Orfeu perdeu seu canto, junto com a perda de Eurídice, após olhar para trás, tal como a mulher de Ló, que se transformou em sal (um símbolo de esterilidade e aridez). Pela tristeza e falta de inspiração que se abateram sobre Orfeu após a morte definitiva de Eurídice, podemos pensar que o herói mergulhou num estado melancólico, que abafou sua capacidade criativa. Nesse sentido, a sombra do objeto (Eurídice) recaiu sobre Orfeu, anoitecendo sua luz poética.

Sem sua amada, o sacerdote da Trácia vaga como uma alma penada choramingando sua perda. É inevitável a associação com a melancolia de pacientes que não cantam melodias maravilhosas, mas esbravejam lamúrias enfadonhas, cuja hostilidade é dirigida para si. No mito, a hostilidade, por vias tortuosas, por intermédio das bacantes, acaba por incidir sobre o próprio Orfeu. Mas essas talvez sejam aplicações um tanto selvagens da teoria psicanalítica sobre o mito…

As ninfas eram belas mulheres semidivinas que não envelheciam; eram longevas, mas não imortais. Eurídice era uma das Auloníades (Aὐλωνιάδɛς) – ninfas associadas ao pasto -, e é curioso que, fugindo de um abusador, acabe por ser vitimada justamente por uma serpente, animal comum nesse tipo de vegetação. Um descuido estranho: no seu próprio hábitat ser mortalmente ferida? Excesso de autoconfiança, arrogância e ingenuidade imbricam-se nessa sutil coincidência.

Um intenso poder de sedução é associado às ninfas, essas jovens mulheres, atraentes, associadas aos elementos da natureza, sobretudo aquáticos; em italiano, nymph, derivado de lympha significa linfa, água; em inglês, por vezes se usa o termo nurses. As mais conhecidas ninfas são as sereias, as nereidas, associadas ao mar, que atraem e prendem os seduzidos nas profundezas.

No entanto, a sedução pode gerar rivalidades, disputas, aguçar inimizades e intensos desafetos. A sedução pode ser inferida de vários personagens do mito de Orfeu: nele mesmo, pelo seu canto; em Eurídice, que seduz Orfeu e Aristeu (sem querer); nas bacantes, que desejavam vorazmente Orfeu. Além disso, a sedução traz a conotação de jogo e competitividade, o que podemos observar em relação às posições ocupadas por Eurídice: ora está à frente, ora está atrás de Orfeu.

Ainda no campo da sedução, mas dessa vez não seduzindo, mas sendo suscetível à sedução,7 a ninfa Eurídice tem algum paralelo com Eva, já que depois da cobra, em ambos os mitos, os casais tiveram que deixar o paraíso. No caso do mito bíblico, parece que o casal conseguiu uma espécie de reparação, a ponto de conseguirem ser férteis e ter filhos.

Nos primórdios da psicanálise, a sedução ocupava o centro das teorias da mente. A teoria da sedução tentava explicar os quadros histéricos com base no trauma infantil que a sedução provocava. Tal teoria mostrou-se incompleta, e não tardou que Freud percebesse que nem todas as histéricas eram realmente abusadas e que o foco deveria ser mudado para a fantasia de ser abusada. Em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, Freud (1905/1980d) esmiuçou a sensualidade da mãe e do bebê, descrevendo a importância do erotismo na constituição do psiquismo. O ego de “sua majestade, o bebê” é forjado num ambiente lascivo até a chegada do interdito paterno. Freud (1915/1980b) pôde-nos esclarecer que a sedução era a resposta imaginada de um dos três grandes questionamentos infantis (de onde vim? por que desejo? como se dá a diferença entre os sexos?). A resposta a esses três questionamentos dá ensejo ao aparecimento das três fantasias primevas (Urphantasien). Ou seja, tais fantasias têm o objetivo de tamponar o vácuo de conhecimento da criança. Resumindo, teríamos:

  1. a origem – que seria a relação sexual dos pais, ou cena primária;
  2. a origem de seus desejos – que viria da sedução de um adulto; e 3. a origem da diferença entre os sexos – ocorrida por meio da castração.

No entanto, um passo separa a sedução que alimenta daquela que estrangula o ego em formação. Assim também era a sedução das ninfas, que atraíam, cuidavam e amamentavam, mas eventualmente destruíam e dilaceravam.

Eventualmente recebemos em nossos consultórios pacientes (geralmente com estrutura histérica) restritos a uma sedução sem contornos, hedonista e inimiga da construção de vínculos, já que o íntimo está obliterado pela sensorialidade; em casos mais graves, observamos só a massiva sexualização camuflando a angústia A dificuldade em estabelecer vínculos se dá justamente porque tais pacientes tendem a erotizar excessivamente as relações. Como Gabbard8 enfatizou, a transferência erótica esconde uma das formas mais agressivas de vinculação. Geralmente, quando não satisfazemos seus vorazes desejos, tais pacientes fazem-nos em pedacinhos (simbolicamente), abandonam o tratamento e, muitas vezes, saem falando mal do analista, recortando do todo da sessão alguma intervenção dele para ridicularizá-lo.

 

4. O papel da mulher na cena com as bacantes

O excesso pulsional das bacantes não era atendido por Orfeu. As mênades (que estão em mania), como também são conhecidas, eram seguidoras de Dioniso, deus das paixões, das loucuras e da criação. Nos cultos religiosos antigos destinados a esse deus, as mulheres devotamente entregues às orgias (ὄργιον) eram chamadas de tíades: as mênades eram suas projeções no plano mítico (Jeanmaire, 1978, citada por Brandão, 1989).

As bacantes unidas, obstinadas, disputando o mesmo troféu, comportaram-se como um grupo psicótico, sem um superego castrador, sedento de satisfação e sem princípio de realidade. O resultado desse transbordamento pulsional é a fragmentação do objeto para o qual era dirigida a libido.

O que cada uma dessas nove9 mulheres faria com sua parte do corpo de Orfeu? Um mero capricho fetichista ou apenas passionalidade desvairada? Um motim organizado? Essas possibilidades não são necessariamente excludentes. O fato é que o orgulho feminino ferido tem precedentes na história mítica: a Esfinge, que devora se não é decifrada; Judite, que decepa a cabeça de Holofernes, depois de seduzi-lo.

A sedução grosseira das bacantes mais se aproximava da provocação, da pirraça, da instigação da masculinidade de Orfeu, do vitupério. E não demorou para a situação degringolar para a franca ofensa potencializada pelos fenômenos de grupo, que amalgama os indivíduos num coletivo louco. Assim, tais mulheres perdiam a crítica moral, inebriadas pela competitividade feminina, personificavam-se em Dioniso (entidade basilar para o orfismo), antagonista de Apolo (que deu a lira a Orfeu, e, em algumas versões, é o seu próprio pai). Mais uma vez vemos lado a lado, na fascinante cultura grega, elementos apolíneos e dionisíacos, tão opositores e tão complementares entre si.

Voltemos a nosso questionamento: por que a recusa de nosso herói inflamou tanto as bacantes? O criticado conceito de Freud de inveja do pênis (Penisneid) poderia ser lembrado. A falta do pênis na mulher, essa defasagem anatômica, acarretaria certa animosidade contra o sexo masculino e também contribuiria para explicar o comportamento mais ciumento das mulheres:

Naturalmente, o ciúme não se limita a um único sexo e tem um fundamento mais amplo, porém, sou da opinião de que ele desempenha um papel muito maior na vida mental das mulheres que na dos homens, e isso se deve ao fato de ser enormemente reforçado por parte da inveja do pênis deslocada. (Freud, 1925/1980a)

Embora Freud tenha feito alguma distinção entre pênis e falo, em certas passagens há confusão. Foi Lacan quem acentuou tal diferenciação, situando o falo em uma representação psíquica tanto simbólica quanto imaginária com base no órgão pênis. Assim o falo – significante estruturador da sexualidade – fomenta a significação fálica como um modo de gozo. Teríamos, com base nisso, formas distintas de gozo, de acordo com o modo com que se lida com a castração e o falo. São duas as formas de gozo: o gozo fálico e o gozo suplementar (para além do gozo fálico, que não tem a cobertura simbólica, um gozo ilimitado). Esse gozo suplementar é exemplificado com as místicas (pode ser místico homem, pois não tem correlação anatômica), e o feminino é não todo submetido à lógica fálica.

Lacan, portanto, dá importante contribuição no que se refere ao entendimento do feminino, deslocando a discussão do biologicismo para o campo simbólico, propondo formas distintas de gozo que estão sintetizadas na tábua da sexuação, desenvolvida por Lacan (1972[73]/1985). E é justamente nesse mesmo seminário que Lacan desenvolve o enunciado “a relação sexual não existe”, apontando o fato de que não há complementaridade ou proporção entre os sexos.

É com base nisso que Lacan diz: “A mulher não existe”. Não existe o substantivo “mulher” com um artigo definido “a” antecedendo-o. Existem formas possíveis de feminino, assim como formas distintas de gozo que não o fálico. No entanto, “O homem” existe, estando este identificado com o pai primevo, ou seja, constituindo, portanto, um modelo de falicidade.

Certas atitudes tomadas por mulheres – como de Medeia, que mata seus filhos e a amante de seu amado após ser enganada por este; ou de Madeleine, que incendeia as cartas de Gide após ser traída por ele – seriam, segundo Lacan, atos que as aproximam de “A mulher” (Barbosa & Zanotti, 2020). O ideal “A mulher”, embora inalcançável, pode ser entrevisto nessas atitudes altivas e violentas de Medeia e Madeleine, quando, com o orgulho ferido, afastam-se de uma caricatura (ou semblante) possível de mulher (mãe, mulher sexualmente atraente, esposa dedicada, cuidadora e outras).

As bacantes, quando despedaçam Orfeu, estariam se aproximando desse ideal de “A mulher”, exatamente porque, ao serem rejeitadas, sofrem ofensas ao orgulho feminino.

Então, o mito de Orfeu mostra-nos que o que é mais valioso para as mulheres é seu orgulho, justamente a característica mais atacada nas mulheres míticas. A mulher escolhe, e esta decisão tem que ser respeitada: este é um princípio civilizatório, que separa os homens dos animais, entre os quais prevalece a lei do mais forte: para os animais, a vontade da fêmea não é prioritária, pois ela é o troféu do macho mais forte.

Estamos diante de uma força feminina de potente atração para um fim destrutivo. Trata-se de um aspecto oposto à tradicional “potência” do feminino, que gera, pare e cria. É a Mãe-Terra, num afã de devorar nossa carne, reivindicando incorporar nossos corpos ao morrermos. É o equivalente a Shiva para os hindus: aquele que destrói para propiciar o nascimento do novo. É ainda o que propôs Freud com sua enigmática pulsão de morte.

 

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5. O civilizador

A morte por despedaçamento (diasparagmós) era, no mundo antigo, uma prática realizada durante situações especiais, em ritos de sacrifício.

Em tais ritos, em que pesem vários significados neles contidos, a agressividade direcionada a uma vítima, impossibilitada de reação, é um aspecto central. A violência fica, portanto, depositada no sacrificado (homem ou animal), o que funciona como uma forma de contenção da violência, não escalando os níveis de tensão, impulsionados por vinganças, dentro da comunidade. A violência contra a vítima sacrificial é, por assim dizer, uma violência benéfica, com a qual se contém a violência maligna vingativa. É uma estratégia de “fogo contra fogo” (Girard, 2005).

A vítima sacrificial normalmente continha as seguintes características: impossibilidade de revidar a violência (daí o símbolo máximo do carneiro passivo); além disso, o sacrificado era um animal ou um ser humano com alguma característica que pudesse representar toda a comunidade, mas que mantivesse também certo distanciamento para que pudesse receber a agressão do sacrifício. Vejamos nas palavras de René Girard, defensor da tese de que os mitos sacrificiais têm uma função de encerramento da violência:

Para que la víctima pueda polarizar las tendencias agresivas, para que la transferencia pueda efectuarse, es preciso que no exista solución de continuidad, es preciso que exista un deslizamiento “metonímico” de los miembros de la comunidad a las víctimas rituales, es preciso, en otras palabras, que la víctima no sea ni demasiado extraña ni demasiado poco extraña a esta misma comunidad. (Girard, 2005, p. 282)

Era assim que a vítima sacrificial mantinha certa proximidade ao mesmo tempo que algum distanciamento identificatório da comunidade.

Com o passar do tempo, desenvolvemos outras estratégias civilizatórias de contenção da violência. O desenvolvimento do direito e dos ritos do julgamento – o que genericamente é chamado de Justiça – veio exercer contraponto a atos violentos vingativos. Se alguém mata um membro de nossa família, vamos à Justiça para prender, punir e conter aquele agressor, para evitar a vingança com as próprias mãos e uma escalada da violência vingativa, que poderia, até mesmo, ocasionar o próprio autoextermínio da comunidade, uma espécie de suicídio, uns matando os outros, numa violência sem fim.

Só assim conseguimos dimensionar a importância de contenção da violência nos ritos sacrificiais do mundo antigo, pois o que morria junto com aquela vítima sacrificial era também a vingança.

O lugar de vítima sacrificial também era frequentemente ocupado por um rei que detinha uma série de privilégios num certo momento, mas, em outra fase, era posicionado num lugar de impotência e então sacrificado para absorver a violência e possibilitar renovação e renascimento.

Orfeu, tal como os reis decaídos, perdeu sua potência para responder às investidas das bacantes e, portanto, gerou raiva contra ele.10

O destino de Orfeu, com sua descida ao inferno (catábase) e aquisição de conhecimentos sobre os mistérios, fê-lo sacerdote do orfismo. O sacerdote no mundo antigo era uma pessoa muito importante. Já sua morte por despedaçamento situa-no num esquema semelhante ao da vítima sacrificial, comum a vários heróis míticos.

Orfeu com sua voz ou sua música, acalmando feras, é amiúde identificado como o que trouxe a civilização para a humanidade. Mas, assim como muitos heróis, até mesmo Jesus Cristo, precisou ser sacrificado para que essa dádiva pudesse ser concedida aos homens.

Cabe, por fim, a questão: por que a violência, no caso da morte de Orfeu, vem das mãos femininas? Aqui nos remetemos aos muitos mitos em que a mulher é quem corrompe o homem, ela é quem seduz, que tira o homem de seu centro lógico-racional (emblema da civilização) e, apaixonadamente, o enlouquece. Portadora de forças sexuais, a mulher desvirtuaria o homem ao enfeitiçá-lo. Nesse ponto, poderíamos fazer uma ponte com a psicanálise, pois conseguimos dissociar na transferência erótica, como já mencionamos, o componente da agressividade imiscuído na sedução.

No mito de Orfeu, a sedução das bacantes não correspondida descamba para a violência intestina dirigida a uma vítima sacrificial, restando pouca coisa do corpo; mas a cabeça permaneceu intacta. O dualismo – corpo (despedaçado, corrompido) e cabeça (pensamento impoluto, preservado) – era uma característica marcante da doutrina órfica.

Em algumas versões, as mênades seriam incitadas por Dioniso, revoltado com a devoção de Orfeu a Apolo. O ciúme, assim, estaria deslocado entre os deuses, situação comum no ambiente dos gregos antigos, os quais acreditavam que os deuses é que manejavam as paixões e sentimentos.

 

6. Observações finais

O mito é o sonho da humanidade. E logo na origem mítica da mulher, segundo a Teogonia, de Hesíodo (2014), a primeira delas, Pandora, fora criada por Zeus para punir os homens que haviam recebido o fogo roubado por Prometeu. Pandora trouxe os males e as doenças; as descendentes femininas dela eram chamadas de o belo mal. Algumas protagonistas míticas, como Pandora, Helena (Brandão, 1989) ou Eva carregam a insígnia de punição e perdição. Eurídice e as bacantes não fogem dessa tendência.

Devemos levar em consideração que tais criações do inconsciente coletivo estavam inseridas no falocentrismo das sociedades antigas. O papel da mulher era a fertilidade, os cuidados com os filhos, o preparo de alimentos e a confecção de roupas, apesar de certas diferenças regionais. A mulher exercia seu poder veladamente, seja na vida privada, porque gerenciava a família, ou na vida social, porque tinha importante papel nas religiões. Não possuía direitos políticos e era coisificada, sobretudo em Atenas. Já na pólis de Esparta gozava de relativa liberdade (Martin, 1947/2000).

A atualidade, com suas questões de gênero, convoca-nos a pensar acerca dos papéis da mulher. E os mitos, frutos do atemporal inconsciente, podem oferecer-nos alguns parâmetros para essa reflexão.

Distinguir elementos que possam ser identificados como femininos não é uma tarefa simples, pois nos mitos, assim como nos sonhos, ocorrem deslocamentos, disfarces e até inversões pelo oposto.

Parafraseando Napoleão – o destino é a política, ele disse -, Freud (1912/1980c) postulou que a anatomia é o destino; e é justamente no campo de batalha do gênero biológico que se está lutando, contra o destino, de uma forma cruenta e concreta, muitas vezes com cirurgias de mudança de sexo, retiradas de mamas, agressivos tratamentos hormonais etc. As questões de mudança de sexo não estariam excessivamene apoiadas num biologicismo?

Os antigos nos falam do feminino em termos de fecundação, cuidado com a família, o mal, o prazer e a sedução. Esse é o feminino que arrastava os heróis até o Inferno, mas que também não pode ser rejeitado por completo, sob a pena de esquartejamento.

Em vários mitos, não só no mito de Orfeu, emerge uma violência cruenta, que termina em morte e destruição. E, passado o transe, quando a mulher se conscientiza de seu ato, fica perplexa da própria selvageria. Na peça As bacantes, de Eurípides, Agave, juntamente com outras nurses estimuladas por Dioniso, atacou, dilacerou e decapitou o próprio filho (Penteu), pensando ser ele um leão-da-montanha. Como vimos, a vítima atacada pelas mênades sempre é alguém importante, valioso, o que enfatiza, com base no ato violento, um desprendimento dessas mulheres de um estereótipo reservado a elas. É como se esse ato reivindicasse uma posição de autonomia do sujeito diante dos seus mais intensos laços, como é o laço com um filho (no caso de Agave) ou o laço das paixões amorosas (que parece ser o caso das bacantes que assassinaram Orfeu). É um brado de independência da mulher, livrando-se de rótulos (ou semblantes) de mãe, nutriz ou amante, tradicionalmente associados ao feminino. Desta forma, o ato subversivo e violento das bacantes força-nos a pensar “fora da caixinha” o que é o feminino, sem necessariamente associar a mulher a funções que orbitam o sexual: a sedução, o prazer, a fertilidade e a maternagem. Existe algo próprio do feminino que escapa das afluências do sexual? Aqui, Lacan é quem amplia essa discussão ao situá-la no campo simbólico. Ter ou não ter pênis é muito diferente de ter ou não o falo. O pênis é apenas consubstanciação de um amplo universo simbólico e imaginário, que encontra também muitas outras formas de representação objetiva.

Pode-se aventar, pelo fato de não ter o pênis, que a mente feminina seria mais desprendida, mais fluida e intuitiva, pois estaria sem a âncora peniana entre o corpo e o psíquico. Isso parece condizer com a visão geral de que a mulher é mais sensível e perceptível. Cassandra é o modelo dessa mulher sensitiva.

O estudo dos hormônios tenta explicar o aspecto difuso da mulher – que o senso comum costuma associar a um modo de ser confuso e/ou emotivo – pela ação ampla e não específica dessas substâncias. Mas é sempre complicado misturar questões biológicas com simbólicas…

Na clínica, com frequência vemos pacientes desorientadas na vida e, de repente, sem querer-querendo, aparecem grávidas. Percebemos tal gravidezes carregadas de idealização, com fantasias de renovação, projetadas narcisicamente nos bebês. Essas mulheres perdidas encontram um refúgio defensivo numa posição subjetiva protética de mãe. Sendo mães, aliviam-se da angústia de escolhas, escapam de conflitivas, não necessitando sustentar seus desejos, já que o laço com o bebê, além de demandar muito trabalho e energia mental, ainda é posto como a missão de suas vidas.

No caso das bacantes ocorre o contrário. A fúria maníaca rompe com os vínculos anteriores, deslocando-as para um vazio identificatório. E por que ocorre tal desconexão?

A suspensão de conexões identificatórias gera um gozo que foi denominado por Lacan gozo das místicas. Oposto ao gozo fálico, que possui uma delimitação representacional, o gozo das místicas estaria além e aquém da contingência simbólica.

Deslocar-se ou tresloucar são sensações buscadas por usuários de drogas alucinógenas; o barato de delirar (do latim delirare, sair da linha do arado), ter a consciência alterada, libera algum prazer.

Quando lemos um poema que rompe o sentido corrente das palavras e nos aponta outras possibilidades – ou mesmo aponta um impossível -, sentimos uma aprazível sensação, ao ir além do que foi delimitado pelas palavras.

Orfeu, as mulheres e os poetas vão além do delineado.

 

2 É interessante a versão comentada desse hinário em Antunes (2018). Para aprofundar os paralelismos entre religião e filosofia no Papiro de Deverni, ver Alvares (2014).

3Orphea uoce (verso 3), a voz de Orfeu. Este é o elemento mais característico do personagem

4 Mesmo num trabalho encorpado como o de Bernabé, Casadesús e colaboradores (2008), com mais de 600 páginas, as hipóteses relacionadas à morte de Orfeu pelas bacantes são basicamente o ciúme, a frustração pela recusa do amor ou a revolta por serem preteridas por homens (neste caso, relacionados a homossexualidade ou exclusão das mulheres no ensinamento dos mistérios órficos). No entanto, não há muito desenvolvimento de tais hipóteses.

5 Em Orfeu da Conceição (Moraes, 1986) essa é a versão encenada

1Vale comentar que Elize Matsunaga era enfermeira. Em inglês, nurse é tanto enfermeira quanto ninfa do séquito de Dioniso; são mulheres na idade de casar, noivas, identificadas com elementos da natureza que cuidavam de animais ou bebês (sobretudo masculinos) abandonados na floresta (expostos), amamentando-os; mas, quando elas estão em transe extático, torna-se violentas.

7 A psicanálise nos mostra o transitivismo entre as posições de sujeito e objeto.

8 Gabbard (1990/2006) tem alguns trabalhos sobre transferência erótica. Remetemos o leitor interessado ao livro que condensa seus achados clínicos.

9 A maioria das versões fala no número nove.

10 É comum observarmos no consultório a raiva dirigida ao Pai fraco, aquele homem que não pôde ou não conseguiu atender às expectativas dos filhos ou da esposa. Isso é tão comum, que, se fosse na arte, poderíamos chamar de tópos, mas na clínica é praticamente um clichê psicológico.

Referências

 

Antunes, P. B. (2018). Hinos órficos: edição, estudo geral e comentários filológicos. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo [doi:10.11606/D.8.2018.tde-31082018-103727]. Disponível em: <www.teses.usp.br>. Acesso em: 10 jan. 2023. [ Links ]

Alvares, J. R. (2014). O papiro de Derveni e seus reflexos na filosofia antiga. 121 f. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, Brasília. [ Links ]

Barbosa, M. S. & Zanotti, S. V. (2020). Feminino: o “sem limites” das verdadeiras mulheres. Analytica: Revista de Psicanálise, 9(16), jan.-jun., 1-16. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2316-51972020000100006&lng=pt&tlng=pt >. Acesso em: 24 dez. 2022. [ Links ]

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Bíblia de Jerusalém (1998). Paulus. [ Links ]

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Freud, S. (1980b). Um caso de paranoia que contraria a teoria psicanalítica da doença. In S. Freud, Edição standard eletrônica das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Imago. (Trabalho original publicado em 1915) [ Links ]

Freud, S. (1980c). Sobre a tendência universal à depreciação na esfera do amor. In S Freud, Edição standard eletrônica das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Imago. (Trabalho original publicado em 1912) [ Links ]

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Gabbard, G. O. (2006). Psiquiatria psicodinâmica na prática clínica. Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1990) [ Links ]

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Moraes, V. de (1986). Orfeu da Conceição. In V. de Moraes, Poesia completa e prosa (pp. 401-454). Nova Aguilar. [ Links ]

Virgílio (1892). As geórgicas. (A. F. de Castilho, Trad.). Imprensa Nacional. [ Links ]

 

Ricardo Biz

Psiquiatra e membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP. Jundiaí

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