Setembro Amarelo

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O Setembro Amarelo passou, entramos agora no Outubro Rosa, com toda atenção ao câncer de mama. Mas ainda vale – sempre valerá – uma reflexão sobre esta campanha que todos os anos nos lembra da hora mais extrema das horas mais extremas, que é quando as pessoas tiram a própria vida.

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Em termos epidemiológicos, tivemos registrado um aumento dos casos nos jovens, aqui no Brasil. Em vinte anos, houve um espantoso aumento de 1900 % nos casos de tentativa de suicídio nos jovens de 15 a 24 anos.

Não há consenso quanto às razões para tanto. Mas a questão certamente passa pela falta de perspectiva de futuro e isso inclui questões econômicas, sociais, políticas, incertezas sobre o futuro no longo prazo, a questão do desemprego, da fluidez do mercado de trabalho e da formação profissional.

Muito se discutiu também a respeito da forma de como a imprensa tem divulgado os casos. Há muito tempo esta discussão é presente, desde a publicação do livro “Os sofrimentos do jovem Werther” , em 1774 por Johan Goethe.

O livro narra as dores de amores do jovem, que por fim comete suicídio. Com o sucesso do texto, viu-se uma epidemia de suicídios na Alemanha, com vários adolescentes e adultos jovens se jogando nas linhas de trem.

O chamado “Efeito Werther” ainda se faz presente, como na época. Tivemos há não muito tempo a cobertura da mídia sobre a morte do ator americano Robin Williams, em 2014, por suicídio, que foi associada ao aumento de 10% nos casos de autoextermínio nos Estados Unidos, durante cinco meses avaliados.

Nas discussões que tivemos neste Setembro, ficou o alerta à mídia, que quando for o caso de se noticiar, é indicado evitar que o termo “suicídio” apareça nas manchetes, assim como não descrever o método usado, nem ficar dando muitos detalhes sobre as razões e não ficar ofertando atualizações da notícia o tempo todo. E acima de tudo sem glamourização, enquadrando como um ato de coragem.

A novidade este ano foi a proposta para que mais gente, que não apenas profissionais de saúde mental, participasse do combate ao suicídio. Envolver leigos na tarefa é sempre uma alternativa viável e se bem engendrada muito eficaz. Temos os exemplos do auto exame das mamas, dos treinamentos em ressuscitação cardíaca e até no uso do desfibrilador e ultimamente da manobra de Heimlich para salvar pessoas engasgadas com corpos estranhos.

Trata-se do “Contrato Breve”. Quando uma pessoa liga ou manda mensagens para outra falando que pensa em se matar, não é eficaz apenas tentar dissuadi-la. Pode ser até que piore a situação.

Alguns mitos devem ser atacados: 1) Se alguém tende a cometer algum ato para chamar atenção, é indicado que ele receba atenção, porque em casos de tentativas de suicídio 2) Cão que ladra… morde, ao contrário do que diz o provérbio.

Portanto, diante de alguém que fala em se matar, proponha um contrato breve – depois de ouvir pacientemente esta pessoa. Diga que ela vá descansar, se alimentar, tomar um banho, enfim, dê-lhe um tempo e estabeleça um compromisso de voltarem a se falar dali a poucas horas.

hospital

E cumpra a sua parte, fazendo o contato no horário marcado. Para simplesmente ouvi-la? Sim. E agindo desta forma você estará dando não só ouvidos, mas perspectivas para alguém que já praticamente não as tem.
Você não estará ganhando um tempo estéril, nem “enrolando” a pessoa que tanto está confiando em você. Você estará salvando uma vida !

Dr Michel Matias Vieira – Médico Psiquiatra, Diretor Clínico do Hospital Psiquiátrico Itupeva

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