A “vontade” é uma função psíquica, inerente à vida.
Schopenhauer definiu que a “essência do mundo é a vontade cega e irracional”. Ela seria o princípio universal do esforço instintivo pelo qual todo ser realiza sua luta para manter a forma de vida que é a sua.
Já para a corrente filosófica chamada “Existencialismo” o conflito entre livre arbítrio (tenho liberdade para decidir como agir) e determinismo (são fatores externos a mim que determinam o que eu faço) é uma das questões fundamentais do ser humano.
A nossa Vontade, então, se submete à balança formada pela questão da liberdade e da responsabilidade de decidir, que destino tomar perante às contingências da vida.
Difícil? Vai ficar mais:
É que antes de prosseguir precisamos saber o que é o “desejo”: ele é a tradução de um querer, um anseio, um apetite, de natureza consciente, ou inconsciente, que visa uma satisfação.
Inicialmente, esta satisfação está ligada a um ato que preserva a vida, como por exemplo comer (ação que nos alimenta e mantém vivos) e fazer sexo (ação para perpetuar a espécie), e neste sentido aprendemos que estas ações fundamentais são necessárias, mais são também muito prazerosas, e este foi o jeito da natureza nos dotar de um mecanismo biológico para nos garantir a vida.
Mas agora imagine que este sistema neurobiológico praticamente perfeito tenha sofrido um ataque hacker e deixado de promover a manutenção da vida e a perpetuação da espécie para virar apenas um promotor de prazer.
E assim as pessoas deixariam de comer para sobreviver e passariam a comer porque é bom à beça.
Pior que isso, algumas substâncias passariam a ser ingeridas, das mais diversas maneiras, não para garantir a vida mas para garantir mais prazer ainda, a ponto de desnutrir que usa essas substâncias.
Calma que piora mais: e se nem precisássemos ingerir nada para estimular o centro do prazer? Se apenas um comportamento, como comprar alguma coisa ou apostar em algum evento ou até fazer exercício causasse o mesmo prazer que uma droga?
Percebam que nem sempre somos donos das nossas vontades e estamos por vezes a um passo de perder perigosamente o controle e assim nos tornar escravos dos nossos prazeres.
O mundo moderno nos coloca muito próximos destas perdas de controle. E aí temos mais um conceito, prometo que o último, que é o impulso.
Os impulsos são um curto circuito no ato de vontade. A natureza nos fez, por questão de sobrevivência, fortes e resolutos para decidir, porém frágeis para refletir, analisar, ponderar e daí conter os impulsos.
Quando se perde o controle da vontade é dificílimo retomá-lo. É preciso procurar ajuda e, saiba, ela existe de várias formas.
A vontade surgiu como um garantidor da sobrevivência. O seu descontrole pode levar à morte. Já falamos que a busca desenfreada do prazer é em si uma escravidão.
Seu antídoto é a disciplina. Que como dizia Renato Russo, é a melhor tradução da liberdade.
Autor: Dr Michel Matias Vieira – Médico Psiquiatra, Diretor Clínico do Hospital Psiquiátrico Itupeva