O Passado

O Passado

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Continuando a série “Gestões para qualidade de vida”, falaremos agora de algo que todos temos em comum, e quanto mais velhos, mais teremos. Trata-se do Passado. Ele pode ser um peso ou uma inspiração. Gerir o Passado é tentar levá-lo de um a outro destes extremos.

Itupeva

Vamos examinar um conceito fundamental para a compreensão do potencial destrutivo que o Passado pode nos trazer. Estamos falando do Ressentimento. Foi Nietschze que disse que “O ressentimento a ninguém é mais prejudicial que ao próprio ressentido.”

Sentir de novo, ressentir, é algo sempre artificial. E uma questão de escolha. Imagine um bagaço de cana. Um vez ele já foi um vistoso caule de cana de açúcar, que foi moído para produzir o caldo, e assim harmonizar com um pastel.

Boa pedida? Gordura e açúcar no talo, eh! eh!, mas esta é outra história. Porém serve para trazermos um conceito similar a ressentir, que é remoer. Literalmente “moer de novo”. Com o tempo estaremos remoendo um bagaço, sem nada extrair dali. Bizarro? Fazemos isso com nosso passado.

Mas qual a chave para gerir o passado? Antes de tudo perdoá-lo. Primeiros passos para isso? Deixar de ressentir, deixar de remoer. Não é fácil, principalmente se tivermos sido injustiçados por alguém ou por uma guinada do destino que nos tenha desencaminhado a vida.

Nada daquilo vai acontecer de novo para que a gente refaça o ocorrido e daí se ter um novo fim. Ou, melhor dizendo, um novo passado – percebe o quanto isso chega a soar até ridículo?
Perdoar, gente, não é esquecer. Isso é mais para uma amnésia. Impossível forçar uma amnésia, a não ser que algo ruim esteja acontecendo entre os neurônios e ainda assim não dá para forçar.

Perdoar é se lembrar sem se ferir, sem experimentar sofrimento. Perdoar o passado, então, sem exagero, se aproxima sobremaneira de se curar de uma doença. Percebam que se trata de uma atitude ativa. Tem que fazer força para que aconteça. Enfim, é uma questão de escolha.

Perdoar um acontecimento não é tirar a culpa da pessoa que nos fez mal – mesmo que esta “pessoa” seja Deus. Cá para nós, todo mundo já se trocou de mal com Ele. Se alguém foi incorreto contigo, perdoar este alguém não o fará correto.

Mas vai te fazer livre. O passado é uma daquelas caçambas que ficam junto às construções ou reformas mas que a gente arrasta pela vida. Estas caçambas já são pesadas vazias. Imagina cheias de entulhos.

Chega de moer de novo um bagaço de cana seco. Chega de sentir de novo por um acontecimento que por vezes você nem se lembra mais com exatidão. Entenda que conceder a liberdade para alguém culpado de um mal feito a você, é te livrar de uma gaiola que só vai deixar de ser eterna se você quiser.

hospital psiquiátrico

Arrastar uma caçamba é inevitável. Mas dá para jogar fora os entulhos. O Presente pode e deve ser um presente que você se dá. Perdoe o passado.

Autor: Dr Michel Matias Vieira – Médico Psiquiatra, Diretor Clínico do Hospital Psiquiátrico Itupeva

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