Entendendo a Síndrome de Burnout

síndrome de burnout

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A Síndrome de Burnout ainda não foi devidamente esmiuçada. Já está codificada na recém lançada CID 11 (a décima primeira revisão do Código Internacional de Doenças, da Organização Mundial da Saúde).

hospital itupeva

Atualmente é considerada como uma doença relacionada ao trabalho. Não é considerada uma doença mental, ainda que apresente sintomas definitivamente de ordem psíquica e emocional. A discussão sobre o Burnout ainda vai longe, e precisa ir mesmo.

Mas, não bastasse este ponto, agora estão sugerindo que existe uma Síndrome correlata, porém com outras particularidades: A “Síndrome de Burnon”. Este termo foi criado por pesquisadores alemães em 2021. Ainda não há consenso sobre esta entidade, vamos chamá-la assim. Grosso modo, seria um estágio antes do Burnout. Sua premissa já causa um incômodo, já que a considera como “estado onde as pessoas trabalham sempre nos seus limites e adiam a exaustão em vez de entrarem em colapso”.

Ora, então quer dizer que as pessoas tem o controle de adiar um quadro de exaustão, como se cair exausto fosse algo decorrente de uma escolha? Outro ponto é que a referida pesquisa volta a relacionar o quadro de exaustão no trabalho como doença mental – mas já era consensual que não se tratava disso, no caso do Burnout. Chegaram a afirmar que o Burnon seria uma “depressão mascarada”.

Nosso problema é estabelecer novos nomes a quadros antigos. Existe a depressão, que inclusive pode ser grave, causada pelo trabalho. E existe o Burnout – perdoem a insistência. Colocar mais uma letra nesta sopa só confunde. Tem mais: na descrição do Burnon, postulam que a pessoa sente uma sensação “demasiadamente próxima e entusiástica com seu trabalho, chegando até a uma super excitação”.

Não explicam se tal fato se fundamenta em algo como uma bipolaridade ou como um movimento de defesa do ego contra o desmoronamento iminente, próprio do Burnout, no que seria então uma “negação”. Entendem a complexidade? Mas esta argumentação justifica a afirmação seguinte, dizendo que a pessoa, de tão “empolgada”, passa a se negligenciar em todos os outros aspectos de sua vida, que não só o trabalho.

Mas para isso temos já estabelecida uma outra síndrome, a “Workaholic”, que consensualmente é considerada uma doença sim, porém relacionada mais a uma dependência química. Percebam que são conceitos muito diferentes.

Outro aspecto envolvido seria o “perfeccionismo disfuncional” – onde as pessoas sofrem por não atingirem sempre a perfeição (como se a tivessem atingido algum dia). Este já é um traço de personalidade, que indica mais uma insegurança e baixa auto estima, em nada relacionado ao trabalho, ainda que possa ser reforçado por ele.

hospital psiquiátrico

Enfim, o conceito de Burnon precisa ser melhor lapidado. Por hora, cabe ainda muita cautela com ele. Essa junção de conceitos, ou sintomas propostos para se estabelecer esta síndrome é confusa e mistura situações muito diferentes. As relações de trabalho merecem sempre ser pensadas e colocar a saúde mental na equação é um grande avanço. Mas por enquanto, considerar a existência da “Síndrome de Burnon” parece ser um retrocesso.

Michel Matias Vieira, Diretor Clínico do Hospital Psiquiátrico Itupeva

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